domingo, setembro 30, 2007

Aqui, na Arcádia


Aqui na Arcádia os marmelos rebentam nos ramos e os ribeiros albergam divindades transfiguradas em esvoaçantes pássaros azuis. Não há templos nas colinas. Repito. Não há templos nas colinas. Que se apartem as marchas rituais e os beatos, para sempre, destas terras sagradas.

Aqui na Arcádia, pendem até ao chão os ramos das oliveiras, carregadas de azeitonas, inchadas e verdes, e o perfume das estevas ainda inunda o ar húmido da tarde. Ébrio com o seu perfume, caminho nas margens das ribeiras, sob as laranjeiras prenhes de flores e frutos, e sob as figueiras odoríferas. É aqui que o Verão se esconde, nestes vales apertados e profundos das serras de xisto. E é aqui que se revela ainda. Aqui, os homens repetem gestos ancestrais: enchem de carícias e cuidados as plantas das suas hortas e as ovelhas que os seus cães guardam com zelo. E assim se renovam os ciclos.

Aqui na Arcádia onde deambulo, o mundo parece coisa longínqua, mas não está longe. Quando desço da Serra ao Algarve, lá onde fervilham as cidades, é grande o linguarejar e são estrangeiros os que sobressaem, vindos no Norte, lá da terra de Sua Majestade. Divirto-me a pensar numa colónia em formação, numa nova Gibraltar, e numa armada que virá um dia, se necessário, em sua protecção. Os súbditos de Sua Majestade, já se aproximam do lugar onde o Verão se esconde. E se revela, ainda.

domingo, setembro 23, 2007

Nos mares da Filosofia


Este mundo (esta ordem do mundo – κόσμος), o mesmo para todos, nenhum dos deuses, nenhum dos homens o fez, mas sempre foi, é e será, fogo sempre vivo, aceso de acordo com a medida, apagado de acordo com a medida.


Heraclito

fragmento 30 de DIELS


Abandonemos os dias apocalípticos à espuma dos dias,

E naveguemos no palpitante Universo, muito mais profundo.

Universo sempiterno, sistólico e diastólico, pulsante como um coração.

Universo de fogo sempre vivo, aceso de acordo com a medida, apagado de acordo com a medida.


Rumemos novamente para mares nunca antes navegados.

Porque navegar é preciso e viver não.

É preciso varrer de novo o horizonte com o olhar.

Demandar a Ilha dos Amores* com as suas Ninfas.


(*) – Pequeno agradecimento a quem, surpreendentemente para este Robinson, descobriu alguns tesouros nesta árida e solitária ilha, perdida algures nos mares do Sul.

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