domingo, outubro 15, 2017

Em leitura: A Grande Aceleração


  «Biodiversity conservation has become a global norm in a very short period of time, in reaction to mounting evidence of biodiversity decline. Despite real conservation successes, human activities since 1945 greatly intensified the number and severity of threats facing the world’s living organisms. Human beings increasingly order the world. We have selected a handful of preferred plant and animal species, living in managed and simplified landscapes, and have unconsciously selected another handful of species that adapt well to these landscapes (rats, deer, squirrels, pigeons, and such). In so doing we have greatly reduced or eliminated the number of other plants, birds, mammals, insects, and amphibians that lived in and on these landscapes just a short time ago. In this regard the ethical question is much the same as ever: Are we content with a world containing billions of humans, cows, chickens, and pigs but only a few thousand tigers, rhinoceroses, polar bears - or none at all?
The twenty-first century portends still greater pressure on biodiversity than did the twentieth.   Rising affluence, at least for some, plus three to five billion additional people, will menace the world’s forests, wetlands, oceans, seas, rivers, and grasslands. But climate change likely will set the twenty-first century apart.» (pág. 100)

Engelke, Peter; McNeill, J. R, The Great Acceleration, An Environmental History of the Anthropocene since 1945, The Belknap Press of Harvard University Press, 2014

(os destaques são nossos)

sexta-feira, outubro 13, 2017

Grandes aberturas: Afirma Pereira


Afirma Pereira tê-lo conhecido num dia de Verão. Um magnífico dia de Verão, cheio de sol e de vento, e Lisboa resplandecia. Ao que parece, Pereira estava na redacção, não sabia que fazer, o director estava de férias, e ele via-se com o problema de preparar a página cultural, pois o Lisboa passara a ter uma página cultural, e tinham-lha confiado. E ele, Pereira, reflectia sobre a morte. Naquele belo dia de Verão, com a brisa atlântica acariciando as copas das árvores e o Sol a brilhar, com uma cidade que cintilava sob a sua janela, e um azul, um azul incrível, afirma Pereira, de uma limpidez que quase feria os olhos, ele pôs-se a pensar na morte. Porquê? Isso, Pereira não sabe dizer. 

Antonio Tabucchi, Afirma Pereira, Publicações Dom Quixote, 2000


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Um livro que devia ser lido pelos ruis ramos deste mundo, em particular os historiadores, em suma, por aqueles que ousam omitir a palavra “fascismo” dos fascículos da nossa História. Realmente, admitamos, a coisa conspurca. Talvez por isso a queiram esconder, mas, o grande problema é que para além de conspurcar, cheira mal. Ele há nódoas que não se deixam apagar.

Aquela gente deixou descendência que caminha connosco. Daí não vem mal ao mundo. O passado ficou lá atrás e temos de saber viver uns com os outros e respeitarmo-nos. Fazemos parte do mesmo país e do mesmo povo e há um futuro a construir. Compreende-se que alguns desses descendentes gostassem de apagar uma parte da história ou de a reescrever de outra forma…É compreensível. Mas não é aceitável. 

quinta-feira, outubro 12, 2017

Um furacão chamado Ofélia


(Atenção: Hazardous conditions can occur outside of the cone.Daqui.

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Um furacão chamado Ofélia

Naquela direcção
Segue um furacão,
Ofélia de seu nome.
Já sopra um suave Afro,
Nas ocidentais praias,
Mas Ofélia segue longe.

Ao largo das nossas costas passeará
Sem se abeirar das brancas areias.
Não irá romper a interdição
de Neptuno:
Nem chuvas, nem tormentos,

Nas costas da Lusitânia.

domingo, outubro 08, 2017

Que venham as tempestades



Alheada do nosso quotidiano, das nossas querelas, das nossas mobilizações, longe, corre a frente polar. Longe caem as chuvas que fertilizam os campos e lavam as cidades outonais. Longe vai o tempo em que o Outono era Outono. O pó do Verão paira e entope ainda as nossas narinas. A continuar assim o Verão de São Martinho vai ser uma pilhéria, uma ironia, um Verão pontual perdido entre dias de Verão. Maldito céu azul.

Que venham as tempestades.  

Ainda a questão do separatismo em Espanha

A questão do separatismo em Espanha é quase tão velha como a própria Espanha. Os seus períodos mais virulentos ocorrem quando falta cimento agregador ao projecto espanhol. O fornecimento desse cimento é da responsabilidade do Poder central. Quando enfraquece nesse seu papel mobilizador, estala o verniz dos separatismos, exactamente naquelas periferias onde a força centrífuga é maior.

É o velho jogo de equilíbrio entre forças centrípetas e forças centrífugas que deve promover o Poder central. Quando falha nesse papel, porque também ele por vezes se distancia, então enfraquece a coesão de todo o conjunto de comunidades e províncias.

E assim, pontualmente, os separatismos vão emergindo, umas vezes mais, outras menos, na história da Espanha ou das espanhas (como insinuou uma vez Michel Drain, na sua pequena Geografia da Península Ibérica: a Espanha são as espanhas). 

sábado, outubro 07, 2017

Lo que ha pasado en España

Las grandes naciones no se han hecho desde dentro, sino desde fuera: sólo una acertada política internacional, política de magnas empresas, hace posible una fecunda política interior, qui es siempre, a la postre, política de poco calado.  

Ortega y Gasset, España Invertebrada, 1921, pág. 40



En 1900 se empieza a oír el rumor de regionalismos, nacionalismos, separatismos…Es el triste espectáculo de um larguíssimo multissecular otoño, laborado periódicamente por ráfagas adversas que arrancan del inválido ramage enjambres de hojas caducas.

El processo incorporativo consistia en una faena de totalización: grupos sociales que eran todos aparte quedaban integrados como parte de un todo. La desintegración es el suceso inverso: las partes del todo comienzan a vivir como todos aparte. A este fenómeno de la vida histórica llamo particularismo y si alguien me perguntase cual es el carácter más profundo y más grave de la actualidad española, yo contestaría con esa palabra.

Ortega y Gasset, España Invertebrada, 1921, pág. 47

La esencia del particularismo es que cada grupo deja de sentirse a sí mesmo como parte, y en consequencia deja de compartir los sentimentos de los demás. No le importa las esperanzas o necesidades de los otros y no se solidarizará con ellos para auxiliarlos en su afán.

Ortega y Gasset, España Invertebrada, 1921, pág. 48

El propósito de este ensayo es corrigir la desviación en la puntería del pensamiento político al uso, que busca el mal radical del catalanismo y bizcaitarrismo en Cataluña y em Vizcaya, cuando no es allí donde se encuentra. ¿Dónde, pues?
Para mim esto no ofrece duda: cuando una sociedad se consume víctima del particularismo, puede siempre afirmarse que el primero en mostrarse particularista fue precisamente el Poder central. Y esto es lo que ha pasado en España.

Ortega y Gasset, España Invertebrada, 1921, pág. 49

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O ressurgir dos particularismos regionais prende-se com o primeiro de todos os particularismos, o do Poder central. A este poder falta perícia para desencantar a magna empresa, ou se quisermos, o grande desígnio mobilizador, necessário para que se mantenham unidos os povos das espanhas. Mas hoje o quadro é diferente do de 1900. A Espanha, ou o conjunto das espanhas, se quisermos, integra-se num projecto maior que se quer agregador à escala internacional – o do aprofundamento da integração europeia no quadro da U.E.. O falhanço do Poder central espanhol em demandar uma empresa agregadora prende-se também com o falhanço da União Europeia em afirmar-se como projecto agregador de povos, regiões e países. A União Europeia, através dos seus órgãos, aliás, sublinha mais ainda a sua fraqueza ao não assumir rapidamente uma posição cristalina em relação à questão catalã ou a qualquer questão separatista que envolva a desintegração de um dos seus Estados-membros. Se a Catalunha repudia a Espanha, então repudia a União Europeia – esta deveria ser a posição da União Europeia. Se a Catalunha sai de Espanha, então sai da União Europeia, e, se quiser pertencer à União Europeia, então só deveria integrar-se nela com a anuência unânime dos seus Estados-membros, incluindo a Espanha - esta deveria ser a posição da União Europeia, que assim se afirmaria enquanto projecto agregador de povos e não, enquanto projecto desagregador dos seus Estados-membros.

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Referência: 

José Ortega Y Gasset, España invertebrada; La deshumanización del arte (Colección Grandes Pensadores Españoles), Editorial Planeta Agostini, 2010. 

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